24 de abril de 2024

Tenho currículo, não sou um João Ninguém, diz Pochmann, presidente do IBGE

Em entrevista à Folha, economista rebate críticas e afirma que instituto precisa atuar como grande coordenador de dados

Leonardo Vieceli

Folha de S.Paulo

"Aqui onde você está não tinha ninguém, não tinha secretária. É apenas um exemplo da realidade que a gente foi encontrando." O local é uma sala na sede do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no centro do Rio de Janeiro, e quem aponta os problemas é o economista Marcio Pochmann, há oito meses na presidência do principal órgão de pesquisas do país.

Indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Pochmann diz que encontrou no instituto uma estrutura "depauperada" e fala em trabalhar para colocar de pé o que chama de "novo IBGE", com um "salto" na produção de estatísticas nos próximos anos.

Também declara ver como "natural" a repercussão que o seu nome gerou ao ser escolhido para o órgão. Ele, contudo, não deixa de rebater as críticas recebidas.

O economista Marcio Pochmann durante a posse como presidente do IBGE, em Brasília, em agosto de 2023 - Gabriela Biló - 18.ago.2023/Folhapress

"Sou o 28º presidente do IBGE. Pode pegar o meu currículo e comparar com qualquer um, com qualquer um, que não tem a quantidade de publicações, livros, orientação acadêmica. Não quero dizer que sou melhor do que ninguém. Estou só dizendo o seguinte: tenho currículo", afirma.

Analistas e acadêmicos contrários à indicação de Pochmann para o IBGE costumam lembrar a passagem dele pela presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2007 a 2012, quando o afastamento de técnicos gerou polêmica. Outra ala de pesquisadores demonstrou apoio ao economista no ano passado.

"As pessoas fazem críticas, tudo bem, é da democracia. Mas vão olhar minha carreira antes de falar. Não sou um João Ninguém. Tenho carreira acadêmica", declara.

No âmbito do "novo IBGE", Pochmann defende a criação do Singed (Sistema Nacional de Geociências, Estatísticas e Dados). A ideia é que o sistema, sob coordenação do instituto, integre diferentes bases de informações, incluindo registros administrativos (dados de órgãos públicos).

"O Ministério do Desenvolvimento [e Assistência] Social tem cadastro com quase 96 milhões de brasileiros. A Receita Federal tem cadastro que se aproxima dos 30 milhões. O INSS tem os dados dos aposentados", diz.

"Temos vários cadastros que não se comunicam. A ideia do novo IBGE é voltar a ser o que era até o início dos anos 1960: o grande coordenador das estatísticas", completa.

Na visão do economista, o instituto também precisa avançar na coleta de dados que poderiam ser levantados por meio de serviços de informação e comunicação, como telefonia móvel e redes sociais.

"Obviamente, como fazemos com sigilo estatístico, não estamos preocupados com o nome, se [a informação] é do João ou da Maria", diz.

"O uso dos celulares nos permitiria oferecer, por exemplo, melhores informações para o turismo: quem entra no Brasil, onde se locomove, o que compra, coisas desse tipo. Tem uma base de informações muito grande", afirma.

A atual gestão do IBGE pretende desenvolver novas pesquisas como a contagem dos brasileiros que estão no exterior e o levantamento daqueles que vivem nas ruas do país.

Também prevê realizar trabalhos tradicionais do instituto, como as novas edições do Censo Agropecuário e da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).

COMUNICAÇÃO PRECISA SER AMPLIADA, DEFENDE POCHMANN

Pochmann aposta em novos canais de divulgação do IBGE nas redes sociais. O plano de trabalho do instituto para 2024 inclui a formação de uma "cultura de lives".

Após assumir a presidência do instituto, o economista declarou em outubro do ano passado que a comunicação do órgão era "do passado".

Ele se referia ao modelo de entrevistas coletivas, que segue em vigor para a divulgação das pesquisas e que permite à imprensa questionar os técnicos responsáveis.

Pochmann afirma que o órgão continuará com as entrevistas, mas entende que o instituto precisa ir além.

"Nossa preocupação é como disseminar melhor a informação. Não é, em nenhum momento, impedir ou evitar que o modo tradicional seja feito", diz.

"A questão é como você amplia isso para a sociedade. A sociedade mudou, tem acesso. Se você ficar em só um canal, não está chegando à sociedade como um todo."

O economista, aliás, costuma usar seu perfil na rede social X (ex-Twitter) para compartilhar compromissos na presidência do IBGE e análises pessoais sobre outros assuntos -uma mudança de postura em relação a antecessores. Ele diz que não vê risco de causar ruídos para o órgão.

"Sou professor universitário, vou morrer professor universitário. Isso aqui [presidência] é uma tarefa que estou tendo a partir de uma demanda do presidente Lula em consonância com a ministra [Simone] Tebet [Planejamento]", afirma.

"A rede social, quase nem uso, mas é da minha vida, de como vejo a coisa. Isso não necessariamente tem a ver com a postura da instituição. Tanto é que jamais falei sobre qualquer pesquisa nossa, não fiz nenhuma interpretação. Não faço comentário sobre isso."

Segundo Pochmann, o IBGE não tem uma instituição internacional como possível exemplo a ser seguido na área de produção de estatísticas.

No ano passado, o economista elogiou a elaboração de dados no Oriente, citando a China, o que despertou críticas de analistas que veem falta de transparência do país asiático nessa área. Pochmann fala em uma "ignorância" da imprensa ao tratar desse assunto.

"Nós não temos nenhuma instituição de preferência. A China tem coisas interessantes, vamos acompanhando, como tem também nos Estados Unidos, no México, em Portugal, na Colômbia", declara.

PRESIDENTE DEFENDE MAIS CONCURSOS E CRITICA "GOLPE"

O IBGE é um dos órgãos que aderiram ao Concurso Nacional Unificado. Pochmann diz que essa será a maior seleção da história do instituto, com previsão de 895 vagas, mas considera que a iniciativa não será suficiente para repor totalmente a perda de servidores dos últimos anos –mesma avaliação de representantes dos trabalhadores da casa.

Na visão do economista, é necessário fazer concursos "recorrentemente". Sem citar nomes, ele critica decisões tomadas a partir de 2016, quando houve o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), chamado de "golpe" pelo presidente do IBGE.

"O golpe de 2016 tirou toda a possibilidade de manter a instituição atuando de forma mais adequada, porque o último concurso foi em 2015", diz.

"As pessoas chegavam à idade de aposentadoria e se aposentavam. A queda salarial levou as pessoas a buscarem outras instituições. Teve um processo de esvaziamento, inegavelmente, nesse sentido", aponta Pochmann, que completou 62 anos na sexta (19).

23 de abril de 2024

A Casa Branca sabe que o Sul global tem razão

Os países ricos adotam uma política industrial ativa internamente, enquanto continuam impondo políticas ultrapassadas no exterior.

Rana Foroohar


© Matt Kenyon

A política econômica em muitos países entrou em uma nova era de apoios e subsídios. Mas os mercados financeiros globais ainda não recuperaram o atraso.

Considere algumas das manchetes da semana passada. Nas reuniões do FMI/Banco Mundial em Washington, as chamadas instituições de Bretton Woods ficaram sitiadas enquanto os líderes do sul global denunciavam a hipocrisia dos credores dos países ricos que exigiam austeridade aos mutuários, ao mesmo tempo que contraíam enormes dívidas próprias.

Em Bruxelas, o antigo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, fez um discurso defendendo uma política industrial à escala da UE. Do outro lado do Atlântico, a administração Biden triplicou as tarifas sobre a China e aceitou a petição dos sindicatos para alívio do comércio de construção naval para contrariar o apoio estatal chinês à sua própria indústria.

No entanto, ao mesmo tempo, os negócios transfronteiriços continuaram normalmente. O chanceler alemão Olaf Scholz liderou um grupo de líderes industriais em uma viagem a Pequim com o objetivo de fazer joint ventures na China. E a secretária do Comércio dos EUA, Gina Raimondo, ajudou a Microsoft, uma pretensa "campeã nacional" americana, a assinar um investimento de 1,5 bilhão de dólares em inteligência artificial nos Emirados Árabes Unidos.

A melhor maneira de reduzir as diferenças entre estas manchetes é compreender que, mesmo que a política fiscal dos países ricos esteja mudando para apoiar o processo a longo prazo de reindustrialização e transição climática a nível interno, os mercados financeiros globais ainda estão decididamente focados em maximizar lucro de curto prazo do setor privado. A disputa entre os dois continuará até que surja um novo equilíbrio.

Na Europa, o fiscal está reagindo contra o financeiro. "Seguimos uma estratégia deliberada de tentar reduzir os custos salariais uns em relação aos outros", disse Draghi, referindo-se à estratégia da Europa pós-2008 de apertar o cinto em vez de investir. "O efeito líquido", prosseguiu, "foi apenas enfraquecer a nossa própria procura interna e minar o nosso modelo social". Agora, a UE está tentando desesperadamente reduzir as diferenças com uma nova união dos mercados de capitais.

Entretanto, a Casa Branca reforçou a ideia de que o comércio livre simplesmente não contabiliza o custo das externalidades negativas como as alterações climáticas. Na semana passada, John Podesta, conselheiro sênior do presidente Joe Biden sobre energia limpa, disse em um discurso: "Quando você contabiliza seriamente as emissões incorporadas nos bens comercializáveis... as emissões dos processos de produção que criam as commodities e os produtos manufaturados que compramos e vendemos no mercado global...
então, os bens comercializados representam cerca de 25% de todas as emissões globais."

Segundo essa contabilização, o próprio comércio livre é o segundo maior poluidor de carbono, depois da China. Isto porque o atual quadro comercial e financeiro global ainda incentiva o que é mais barato para as empresas e mais rentável para os acionistas, e não o que é melhor para o planeta.

Como observou Podesta, os EUA costumavam ser o maior produtor mundial de alumínio. Agora, metade do alumínio mundial provém da China, mas com 60% mais emissões. Na verdade, as emissões que a Lei de Redução da Inflação espera reduzir até 2030 são iguais apenas às que os EUA importaram em bens manufaturados com grande carga de carbono em 2019.

Em uma tentativa de enquadrar este círculo, a Casa Branca anunciou um novo grupo de trabalho sobre clima e comércio que se baseará na ideia da Representante Comercial dos EUA, Katherine Tai, de um sistema comercial "pós-colonial" que precifique a carga de carbono e os padrões laborais. Um tal sistema poderia, por exemplo, oferecer transferências de tecnologia para países em desenvolvimento em troca de produtos essenciais.

Mas as instituições financeiras globais também terão de mudar se quisermos que haja uma verdadeira mudança para um sistema melhor. Em um painel da Oxfam em Washington na semana passada, Adriana Abdenur, conselheira econômica especial do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, chamou a atenção para o "descompasso" entre "países e regiões ricos que agora abraçam e defendem abertamente a política industrial” enquanto "ainda pressiona as instituições financeiras internacionais a impor uma prescrição ultrapassada do Consenso de Washington".

A Casa Branca sabe que o Sul global tem razão. Na semana passada, o vice-conselheiro de segurança nacional dos EUA para economia internacional, Daleep Singh, apelou a uma maior utilização da autoridade soberana de garantia de empréstimos dos EUA para reduzir as taxas de juro nos países em desenvolvimento.

Mas também apresentou várias ideias destinadas a aumentar o investimento nos EUA que pareciam ter saído das páginas de um manual de estratégia industrial para países em desenvolvimento. Estas incluíam um "fundo de resiliência estratégica" para garantir cadeias de abastecimento de energia limpa, e até mesmo um fundo soberano dos EUA para fazer investimentos de longo prazo em tecnologias estratégicas.

Tudo isto nos diz que nos encontramos em um ponto crucial e que nenhum país tem todas as respostas. Muitas partes interessadas, porém, querem se agarrar ao passado, mesmo quando o futuro está a mudando. Fico maravilhado, por exemplo, com a cegueira deliberada dos fabricantes de automóveis alemães que assinam uma declaração conjunta para trabalhar em veículos conectados com a China, embora seja provável que a Europa imponha restrições aos VE chineses na Europa. Da mesma forma, receio que o esforço dos EUA para combater a IA chinesa faça com que um punhado de gigantes tecnológicos dos EUA tenham ainda mais poder de mercado do que já têm.

Rossana Rossanda lutou pela revolução mundial

A marxista italiana Rossana Rossanda nasceu hoje há 100 anos. O Partido Comunista do seu país procurava uma "via italiana para o socialismo" gradualista - mas ela insistia que a luta de classes na Itália estava ligada ao destino da revolução mundial.

Ingar Solty

Jacobin

A escritora e jornalista italiana Rossana Rossanda em Roma, Itália, 18 de maio de 1996. (Leonardo Cendamo/Getty Images)

O ano de 1945 foi um grande avanço para os comunistas da Europa. Paradoxalmente, o papel soviético na libertação do continente do fascismo alemão significou que os comunistas foram elevados ao poder nos países orientais, onde tanto o capitalismo como o movimento dos trabalhadores eram, na sua maioria, relativamente fracos. Também existiam Partidos Comunistas de massa no Ocidente. Mas as condições da Guerra Fria impediram-nos de ocupar altos cargos, inclusive graças à considerável atividade dos serviços secretos dos EUA - e na Grécia, a uma sangrenta guerra civil.

A base do comunismo como movimento de massas da Europa Ocidental foi o seu papel na luta contra o fascismo e a ocupação. Isto foi particularmente verdadeiro na França e na Itália. Em 1945, um governo trabalhista radical chegou ao poder na Grã-Bretanha, apoiado por sindicatos de adesão em massa, e os sociais-democratas e os comunistas cresceram rapidamente em toda a Alemanha do pós-guerra ocupada pelos Aliados. Mas foram especialmente o Partido Comunista Francês (PCF) - "o partido dos 75.000 executados" - e o Partido Comunista Italiano (PCI) que amadureceram e se transformaram em enormes organizações de massas.

O PCF francês cresceu de trinta mil membros antes da política da Frente Popular para meio milhão no final de 1945. Tornou-se imediatamente o partido mais forte no parlamento, com 26,2% dos votos e 159 assentos na Assembleia Nacional. Um ano depois, atingiu 28,3 por cento e 182 deputados. Na Itália, o número de membros do Partido Comunista aumentou de quinze mil para 1,7 milhão em um ano. Rapidamente se tornou um dos maiores partidos comunistas do mundo capitalista, superado apenas pelo partido indonésio, que atingiu o pico de três milhões de membros antes do genocídio anticomunista de 1965.

Quando o exército dos EUA iniciou a invasão de Itália no Outono de 1943 e abriu caminho para Roma em junho de 1944, a percepção era que a Itália só conhecia "padres e comunistas". Esta é a realidade por trás das histórias satíricas de Giovanni Guareschi sobre o padre Don Camillo e o seu homólogo Peppone, um comunista que governa uma pequena cidade rural.

O sucesso dos comunistas italianos também deveu muito à sua independência. Isto foi enfatizado até mesmo pelo lendário presidente Palmiro Togliatti, companheiro de longa data de Antonio Gramsci. No entanto, após sua morte em 1964, os soviéticos nomearam uma cidade industrial em sua homenagem. O líder Enrico Berlinguer reforçou este caminho italiano para o socialismo na década de 1970. Os seus oponentes de esquerda no interior do partido, em torno de Pietro Ingrao, Rossana Rossanda e Lucio Magri, também defenderam tal caminho. O PCI "italianizou" o comunismo e não baseou as suas políticas exclusivamente na política externa soviética. Segundo Rossanda, o sucesso do PCI deveu-se ao fato de "ainda estar discutindo e discutindo", e não a ser um monólito. Isto também produziu uma atmosfera intelectual vibrante, onde Rossanda foi uma das luzes brilhantes da criatividade marxista.

Um partido orgulhoso da qual nada resta

No entanto, quase nada resta deste orgulhoso partido depois de 1991. Nesse momento, não só perdeu membros e eleitores, mas também o seu nome e caráter. Negou ambos, na crença enganosa de que o termo "comunista" e o antigo programa eram meros obstáculos eleitorais. Os sucessos recentes do Partido Comunista Austríaco em alguns dos lugares mais burgueses imagináveis, como Salzburgo, mostram como isto era desnecessário.

O PCI transformou-se primeiro no Partido da Esquerda Democrática (PDS) e em 2007 no Partido Democrático (PD). Esta aliança desajeitada e ampla é explicitamente modelada no Partido Democrata dos EUA - um pouco social, um pouco verde, mas acima de tudo completamente liberal e antimarxista. Isto não ajudou: hoje tem apenas cento e cinquenta mil membros e apenas cinco milhões de eleitores, nem sequer metade dos resultados típicos dos comunistas na década de 1980.

Quase nada resta do comunismo italiano hoje. Um dos sistemas políticos mais estáveis ​​do período pós-guerra, dominado por uma forte Democracia Cristã (DC) e pelos Comunistas, é emblemático da fragmentação dos sistemas partidários e da instabilidade. Tal como os comunistas, a grande tenda DC também se desintegrou a partir de 1992 como parte do escândalo de corrupção "Tangentopoli".

Sem o autodesmantelamento do PCI, Silvio Berlusconi, a Liga do Norte e a Alleanza Nazionale de extrema-direita não teriam conseguido o seu avanço. E a Itália não seria governada hoje pela (pós-)fascista Giorgia Meloni, que, cortejada por aliados internacionais, está ainda melhor nas sondagens do que em 2022. Acima de tudo, nunca teria existido o Movimento Cinco Estrelas - nem um partido de esquerda, mas um aspirador capaz de sugar o estrondoso mal-estar social.

Em 1975, o historiador marxista britânico Eric Hobsbawm disse que devido ao papel de liderança dos comunistas na Resistência "na vida da nação italiana" tinha havido "a continuação de uma hegemonia cultural de tendências antifascistas, democráticas e progressistas [...] em contraste com o que aconteceu na Alemanha Ocidental". Na Itália, parecia não haver "mais intelectuais de direita" depois de 1945. Então, como é que este país, onde quase todas as aldeias ainda têm uma Via Gramsci, se tornou a terra de Berlusconi e Meloni?

O caminho para o comunismo

A biografia da intelectual marxista Rossana Rossanda é reveladora. Mais tarde, ela se descreveu como uma "típica intelectual burguesa que fez uma escolha comunista".

Ela nasceu em Pola, na península de Ístria (hoje Pula, Croácia), onde sua mãe possuía "ilhotas" inteiras. Mas ela cresceu em Milão, onde também estudou. Em 1943, juntou-se à Resistência antifascista através do seu professor de filosofia Antonio Banfi, cujo filho Rodolfo mais tarde se tornou seu primeiro marido. Como partidária "Miranda", ela viajou como mensageira. Mais tarde, ela refletiu:

Quando o fascismo explodiu, durante a guerra... com violência, perseguição e morte... a mera compreensão já não bastava, era preciso intervir. Aqueles que atingiram a maioridade naqueles anos nunca conseguiram ver a busca pela sua identidade como um assunto privado. O mundo inteiro passou por cima de nós e tem feito isso sem parar desde então.

Da Resistência, Rossanda encontrou o seu caminho para o movimento operário liderado pelos comunistas. Na primavera de 1945, ela foi uma das milhões que aderiram ao PCI. Ela se tornou uma traidora de classe. Isso não era apenas consequência do reconhecimento teórico, mas também encorajado pela realidade que estava diante dela. Na Milão industrial, emergiu um novo e poderoso movimento operário, com "fortalezas vermelhas" nos pneus Pirelli, na siderúrgica Falck e nas obras de engenharia da Magneti Marelli.

Como ainda era típico da sua geração, para Rossanda o amor pela literatura e a luta de classes andavam de mãos dadas. Ela escreveria com tanta elegância sobre economia política e imperialismo quanto sobre Virginia Woolf e o historiador de arte Aby Warburg. Ela traduziu A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne, Antígona, de Sófocles, e Os Enganados, de Thomas Cullinan.

Rossanda teve um caso de amor especial com a cultura da Alemanha, que acabava de cobrir o mundo com uma barbárie sem precedentes. Isto é surpreendente hoje, quando grandes humanistas, de Leo Tolstoy a Anton Chekhov, estão sendo banidos dos programas e currículos devido à demonização de todas as coisas russas. “A cultura alemã”, escreve ela a certa altura, é “objeto da minha admiração, [Georg Wilhelm Friedrich] Hegel, meu avô, [Karl] Marx, meu pai, [Bertolt] Brecht, meu irmão, e Thomas Mann, meu primo”.

Rossanda trouxe este conhecimento burguês para o movimento proletário. Em Milão, chefiou inicialmente a “Casa da Cultura” do PCI, tornou-se membro do conselho municipal, membro do Comitê Central e, a partir de 1963, deputada. Para ela, a política era, como para Rosa Luxemburgo, a totalidade da vida em todos os seus aspectos sensuais: o “caminho para o conhecimento”, uma “educação sentimental estrita“: um “caminho através do sofrimento e das paixões, através das amizades e controvérsias, através da confiança e despedida...”

A motivação de Rossanda foi a libertação da humanidade. Ela sonhava com uma revolução mundial. Ela viajou para a Espanha franquista em uma missão secreta em 1962 em nome do PCI e de um “comitê democrático” não partidário para sondar as perspectivas do Partido Comunista e de uma “revolução democrática”. Ela foi para Espanha perguntando-se: “Será que a revolução no Ocidente poderá estar de volta à agenda?”

O fato de ela ser uma mulher entre os líderes comunistas suscitou pouca reflexão específica. Ela disse sobre sua carreira: “Estávamos autoconfiantes porque sabíamos - depois de observar como nossas mães e tias viviam - o que não queríamos. O mais alto nível de educação e participação ativa nos salvariam.” Somente no final da década de 1970 ela também pensaria mais sobre a feminilidade.

Pensando para a revolução

O pensamento de Rossanda era vividamente marxista. A ortodoxia intelectual lançou as bases para o foco, a perseverança e o pensamento sistemático. Assim, permaneceu isento de arbitrariedade, preguiça de pensamento e modismos intelectuais. Pensar no e para o partido fazia parte de uma busca coletiva de sentido. No entanto, havia também uma certa heterodoxia, permitindo uma criatividade intelectual sem limites.

Consciente da incompletude do trabalho de Marx e da sua constante necessidade de aplicação, Rossanda baseou-se em toda a herança teórica do movimento operário - incluindo os seus elementos mais impopulares - para informar a mudança prática. Uma vontade irreprimível de estudar e de chegar a uma compreensão leninista da verdade permitiu uma abordagem concreta de todas as muitas cores da realidade e das forças que poderiam revolucioná-la.

Rossanda é frequentemente comparada a Luxemburgo. Ela certamente se via no espírito da revolucionária polaca, em uma altura em que o seu “espontaneísmo” ainda era visto com suspeita pelos defensores da ortodoxia marxista-leninista. Rossanda certa vez descreveu o seu movimento de pensamento sobre a revolução de classe, partidária e proletária como: "Começando com Marx, estamos gradualmente retornando a Marx".

O seu pensamento é melhor compreendido como a busca de uma revolução mundial. Em última análise, seu pensamento dialético mediu tudo em relação a essa questão. Embora tenha crescido no espírito de Gramsci - o teórico do fracasso da revolução no Ocidente - ela falou de revolução em vez de transformação. Ela argumentou veementemente contra "a redescoberta da [supostamente] rejeitada 'superestrutura'", bem como contra o "slogan da autonomia da política" que mais tarde ficou "na moda".

Rossanda também era uma "otimista de vontade". Ao contrário de pessoas como Theodor Adorno ou Louis Althusser, ela estava preocupada com a “dialética da ruptura e da continuidade” e com as janelas de oportunidade para a ação revolucionária no caminho para o socialismo. Mas, ao contrário dos pós-operaistas posteriores, que abandonaram a classe trabalhadora como sujeito de mudança, ela não era uma voluntarista idealista. Seu pensamento marxista nas relações materiais de poder e suas combinações a impediu de fazê-lo.

Mas como funciona a revolução? Rossanda observa que “não consegue encontrar uma definição de revolução em nenhum lugar da obra de Rosa”. “Como eu poderia encontrar uma? Você não define o que você vive.” Mas ela mesma a definiu: a revolução, escreveu ela em 1969, é “o resultado indissolúvel do amadurecimento material da luta de classes, da sua autoformação em formas políticas de expressão e da formação subjetiva da consciência, através da qual nenhum dos três momentos pode ser separado dos outros.”

Tal "concepção" não permite "interpretações mecanicistas nem evolucionistas, porque vê o motor da violência do proletariado irrompendo", nem pode "ser equiparada a um desígnio subjetivo... uma consciência histórica e de classe diante da história e da classe."

A consciência de classe surge “no decurso da luta”. A classe trabalhadora continua sendo “o sujeito histórico permanente” porque o capitalismo cria a classe trabalhadora em “forma e dimensão” e “também alienação”; o que o faz “negar o capitalismo é a sua posição real. A luta de classes tem as suas raízes materiais no próprio sistema-mecanismo.”

Rossanda seguiu a visão de Gramsci de que a revolução nos capitalismos ocidentais desenvolvidos, ao contrário das periferias dependentes como a Rússia, é bem-sucedida como uma “guerra de posição”. Prosseguiria através da luta pela hegemonia por parte de um “bloco histórico” de classes não antagônicas, em vez de uma “guerra de movimento” modelada na “tomada do Palácio de Inverno”. De acordo com a visão luxemburguesa de Rossanda, isto também produziria um melhor ponto de partida para a construção do socialismo.

A “maturidade de uma revolução social” é caracterizada pelo fato de que “vai além de uma [revolução] meramente política” e, portanto, “será mais radical do que uma revolução política; não será jacobina [centralizada, de cima para baixo] e, portanto, não será autoritária”. Rossanda coloca a seguinte questão como questão norteadora da revolução: “Que tipo de Estado e instituição é capaz de garantir a preservação da aliança revolucionária para a classe trabalhadora e o povo - uma formação complexa - e ao mesmo tempo mudar as instituições herdadas da divisão social do trabalho, ou seja, estabelecendo uma racionalidade diferente de produção?”

Nesta visão, o partido não é um fim em si mesmo. A questão importante é que benefícios isso oferece à (auto)libertação revolucionária da classe trabalhadora. Rossanda estava preocupada com a migração do processo revolucionário no século XX para os elos mais fracos do sistema imperialista mundial, enquanto o capitalismo se estabilizava no núcleo imperial. Ela estava preocupada com o fato de na periferia a revolução não ter sido levada a cabo pelo proletariado industrial, mas principalmente por pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas.

Segundo Vladimir Lenin, a "cadeia imperialista" se rompe primeiro na periferia. Aqui, Rossanda conclui:

O confronto deve... ser devidamente preparado: quanto mais "imatura" é a sociedade, mais a vanguarda tem a tarefa de encurtar, por assim dizer, a distância entre as condições objetivas de exploração intolerável e a eclosão aberta do conflito, rasgando os explorados e oprimidos... por sua ignorância ou resignação - transformando-os... em revolucionários.

Mas uma vez que as possibilidades de sucesso da revolução nas formações dependentes dependem da revolução nos centros, também se trata dos países capitalistas centrais. No entanto, uma vez que prevalece uma estabilidade completamente diferente nos centros, surge aqui uma forma partidária diferente: a do partido de massas baseado em classes.

Il Manifesto

Poucas semanas depois destas deliberações, Rossanda foi forçada a sair juntamente com outros membros de esquerda do PCI, incluindo outros dois do comitê central. O fator decisivo foi a fundação do seu próprio jornal: Il Manifesto.

Tais iniciativas independentes muitas vezes levaram a expulsões: desde o Reasoner de E. P. Thompson, que levou à retirada da "Primeira Nova Esquerda" do Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPGB) em 1956, até o "Debate de Düsseldorf", que provocou expulsões do Partido Comunista Alemão (DKP) em 1984.

Ainda assim, ao contrário do Reasoner, o manifesto surgiu apenas parcialmente em oposição às justificativas do partido para a política externa da URSS. Ao contrário do PCGB, um distanciamento relativo do "socialismo realmente existente"de estilo soviético era, em qualquer caso, compatível com elementos centristas e de direita no PCI. Pelo contrário, a preocupação da esquerda do PCI era que a chamada "via italiana para o socialismo" já não conduzisse a esse ponto final. Pelo contrário, representou um abandono da revolução em favor de ilusões reformistas. Esta crítica, e não a (não)reação do PCI à supressão da "Primavera de Praga", foi decisiva.

O manifesto não foi um capricho repentino, mas o resultado de um longo processo de alienação do PCI. Rossanda data o início em 1962, e a referida viagem à Espanha franquista em nome do partido. A viagem trouxe "dúvidas à luz", “o que mais tarde deu o impulso” para uma nova partida. Na altura, ela sentiu “que as coisas, quando expostas à luz da experiência, revelavam padrões e proporções diferentes” daqueles defendidos pelos comunistas. “E provavelmente não há comunista que não fique inquieto quando reconhece o seu partido, em qualquer situação, como cego.”

She had headed to Spain with the idea of a “democratic revolution,” which was to lead to socialism on the ruins of the dictatorship. Ultimately, the assumption was that the fight against Francisco Franco would strengthen the movement much as the popular-front strategy had bolstered the PCI after 1944. The hope was that the Spaniards would have more luck after the end of their “fascism” than the Communists in Italy or Greece.

Back then, Rossanda writes, “for the first time a calculation did not work out.” “We had certainly felt the blow of 1956; we were certainly tormented by the open wound of ‘actually existing socialism’... But in our own house... we considered ourselves knowledgeable.” From Spain, she developed a critique of the popular-front strategy because there is no “democratic revolution” that would “lead us close to the wall that separated us from socialism.”

The alienation intensified over the next four years. Togliatti died in 1964, and the question of his legacy occupied the 11th Party Congress two years later. This itself marked a rift. The congress discussed the “betrayal” of the revolution and the popular-front strategy — a harbinger of the “historic compromise” with Christian Democracy, i.e., the party of the bourgeoisie. The party conference ended in defeat for the Left. As Rossanda put it, “De facto, I was only expelled three years later, but the separation took place when I stopped thinking ‘within the party and for it’ for the first time since 1943.”

Yet this alienation also favored intellectual creativity. Her theoretical texts on Mao Zedong, party, class, and revolutionary theory were written under the “well-founded assumption of my heterodoxy.” She “rehabilitated the classics of heresy,” above all Luxemburg. “In my head, as in other heads, a ‘left-wing revisionism’ was clearly taking shape.”

For the PCI’s left flank, the mirror image of social democratization in the West was the betrayal of the revolution in the East. The Soviet Union’s foreign policy, defensively focused on securing its existence while avoiding conflict with the United States, prevented new revolutions. While the USSR no longer sought to export the revolution and looked skeptically at Che Guevara’s adventures in the Congo or the US backyard of Bolivia, the PCI was revolutionary in name only: there were postrevolutionary states in the Eastern Bloc and a postrevolutionary party in Italy. Rossanda eventually felt vindicated by the suppression of the coup in Chile in 1973 by the US-backed military — she had visited Chile and had sympathized strongly — given that, unlike with the Cuban Revolution fourteen years prior, now the USSR and China essentially tolerated its suppression.

Olhando para trás, ela escreveu em 1977:

A identificação do "socialismo realmente existente" com o movimento anti-imperialista, socialista e anticapitalista no Ocidente... dissolveu-se na década de 1960, por várias razões: Devido ao cada vez mais evidente papel de grande potência da URSS; a divisão que ocorreu entre... a URSS e a China; na sequência da política externa mutável da China, que oscilava constantemente entre o auto-isolamento e a defesa dos países isolados do Terceiro Mundo; [e]... pela desastrosa... invasão da Tchecoslováquia.

Desde então, a ajuda revolucionária da URSS e da China tornou-se "cada vez mais... misturada com os seus interesses no tabuleiro de xadrez mundial". Com o apoio do Vietnã, "tudo se esgotou... Os camaradas vietnamitas venceram porque a URSS e a China existem, mas também... embora existam". "No geral, o 'socialismo realmente existente' hoje não é um modelo nem uma garantia para revoluções futuras e diferentes."

After the Chilean events, Rossanda’s thinking turned on the question of how a revolution in Italy could escape this fate. This also raises the question of “whether a revolution is possible at all without being supported or guaranteed by. . . the USSR and China.” In fact, “no revolution can escape the obligation” to “deal with the present crisis of the USSR and the ‘socialist’ camp, resulting from internal as well as external factors. It has become our own serious problem, whose solution cannot be put off.”

With this outlook in mind, Rossanda organized an important international conference on “postrevolutionary societies” in 1977. This approach was light-years away from today’s usual left-wing moralism, which first celebrates breakthroughs — Syriza’s election in Greece or the Bolivarian Revolution in Venezuela — projecting their illusions onto these experiences, only then to demonize them after their defeat. Similar thinking to Rossanda’s today would also demand the development of a position on China as a world-historical force. Instead, many leftists maintain a helpless non-position or even allow themselves to become the useful idiots of Western imperialism and a devastating new bloc confrontation.

Rossanda estava familiarizada com esta atitude apolítica. Em 1981 ela escreveu:

Velhos e novos esquerdistas, agarramo-nos à última revolução que se nos apresenta... Somos os drones dos projetos e práticas dos outros. Parasitamente, participamos de suas convulsões e lutas, exceto quando perdem; então nos retiramos, ressentidos e taciturnos. Somos os primeiros a antecipar o julgamento da história com o carimbo dos arquivos; conhecemos os erros dos outros até o último detalhe, amamos as decepções e as destacamos meticulosamente para justificar nossas próprias atitudes comprometedoras.

No seu discurso de encerramento da conferência de 1977, ela insistiu: "Por mais imperfeito e cheio de culpa que o socialismo possa ter aparecido nestas sociedades, do outro lado da barricada estavam o imperialismo, o colonialismo e, finalmente, o fascismo".

Esperanças do 68

Rossanda sofreu com a paralisação da revolução no Oriente e no Ocidente. A invasão soviética de Praga não foi o gatilho, mas um sintoma dos processos que levaram ao Il Manifesto. No ano internacional de 1968, incluindo a Primavera de Praga, ela viu o potencial para um movimento operário revolucionário e revivido: como ela disse, “1968 lavou a minha melancolia”.

The “ingraiani,” named after the “leader of the [PCI’s] left wing” Ingrao, saw the world on the move. Ingrao, who remained loyal to the party, was given the label of movimentista — “the movement-oriented Communist.” For her part, Rossanda traveled to Paris to study the French May. In 1968, her book The Year of the Students was published; like her comrade-in-arms Magri in his own book, she pleaded for an alliance between the student revolt and the workers’ movement. Many students attributed the subjective failure of the longed-for revolution to their lack of connection with the working class. But connections were made as a result.

O ano de 1968 interessou a Rossanda, de 44 anos, pelo seu espírito de revolta, que ela queria contagiar o movimento operário tradicional. Quatro décadas depois, ela refletiu:

A geração de 1968 teve o ímpeto de romper com os velhos hábitos. Mas eles não tinham cultura política própria. O PCI, por outro lado, tinha uma longa tradição política, mas tinha perdido toda a vontade de provocar mudanças sociais. Acho que poderia e deveria ter havido um diálogo... Não aconteceu. A diferença geracional era muito grande.

O fracasso teve um efeito devastador: “A maioria das organizações e formações políticas da esquerda histórica dos séculos XIX e XX entraram em colapso internamente e não foram capazes de se recuperar”.

O rompimento de Rossanda com o PCI ocorreu em 1968 e a oportunidade foi perdida. Assim, "numa noite de julho de 1968, disseram-me mais uma vez as razões pelas quais o partido tinha que agir com cautela, caso contrário entraria em colapso... Naquela época, puxamos os primeiros cordelinhos para o manifesto... Eles nos fecharam fora. Mas não fomos jogados sobre nós mesmos: fomos lançados em um processo histórico no qual tivemos que navegar."

Comunismo: derrotado, mas necessário

Il manifesto’s platform published in September 1970 stated that the “communist perspective” was the “only alternative to the catastrophic tendencies of today’s world.” However, the “parliamentary path” to socialism was an “illusion” and the “center left” (1960s coalition of Christian Democrats and Socialists) had failed. Social democratic reformism” had made itself the “pillar of capitalism and its state.” The prospect of a future “subaltern entry of the PCI into government” would be a strategy of co-optation by the bourgeoisie, which would “not solve the crisis, but exacerbate it.” It was necessary to “develop the theory of revolution in the West” and “build a truly revolutionary force.”

Rossanda was no sectarian. She was aware of the importance of the class-based mass party for the revolution in the West. Looking back, she wrote: “The fact is that certain voyages can only be undertaken in large ships.” Il manifesto initially sparked considerable momentum. Local groups emerged in almost all Italy’s major cities. “It’s not a split,” wrote Rossanda, “it’s a real hemorrhage that refuses to calm down.” The newspaper, which appeared daily from April 28, 1971, soon had sixty thousand subscribers.

The main party project was the “Party of Proletarian Unity” (PdUP). But the attempts to found a stable party to the left of the PCI were disappointed. The PdUP failed in elections. At Berlinguer’s suggestion, it rejoined the PCI in 1984, albeit without Rossanda.

Increasingly, Rossanda saw rising neoliberalism as the main cause of the defeat that broke the back of the workers’ movement in the West and the anti-imperialist movements in developing countries — while also increasing the pressure on actually existing socialism. Rossanda saw the collapse in the Eastern Bloc as a catastrophe. In 1994, she described the “pull” that “brought down the idea of a possibly different society with the regimes of the East.” But: “The crisis of the ‘revolutionary’ space had been brewing for a long time.”

The neoliberalization of the social democratic parties, including the degeneration of the PCI into today’s Democratic Party, for Rossanda expressed the eradication of an “entire idea of social transformation.” She saw the first Gulf War as the prelude to a new imperialism. Unlike those leftists who today invoke the need to support an invaded sovereign country while they actually support a proxy war by their own imperialist states (against Russia, and, lurking behind, China), Rossanda and Ingrao rejected thinking about imperialism in moralistic and liberal terms.

The new world order of global capitalism was already apparent to Rossanda and Ingrao. They wrote in a joint manifesto in 1995: the Gulf War is the “turning point in the geopolitical world situation”: not only is “new terrible technology being tried out, but also no less alarming categories of thought are being made acceptable: the concept of ‘just war’... the notion of ‘international police action,“ with which “a new authority has been enthroned that arrogates to itself the right to impose a new world order” that “renews the domination of the North over the southern hemisphere.”

Rossanda was stunned by the complete disappearance of the socialist left. In an interview in 2018, she lamented: “Everything, everything has been lost. The voice of the humiliated and insulted can no longer be heard anywhere.” Even in the early 1990s, she wondered whether she was looking for answers to questions that no one was asking anymore. She probably remembered her trip to Spain. At the time, a Socialist Party representative explained to her what defeat means: “[T]hrown back into silence, you notice the absent-mindedness of those who saw you as a symbol and who do not forgive you when you are no longer one; sometimes they regret you, but generally they forget you.”

Her 2005 autobiography (published in English as The Comrade from Milan) featured her memoirs up to 1969. Rossanda asked: “Why were you a communist? Why do you say you still are?” She described herself as a “defeated communist.” Communism had “failed so miserably that it was essential to come to terms with it.” It “may have done wrong things, but it wasn’t wrong.”

Rossanda died in 2020 at the age of ninety-six, after over three-quarters of a century in the movement. After her death, Deutschlandfunk reported that things had become “very lonely around left-wing intellectuals” like her. But only “history will show” whether her life truly ended in defeat.

Colaborador

Ingar Solty é investigador sênior em política externa, de paz e de segurança no Instituto de Análise Social Crítica da Fundação Rosa Luxemburgo, em Berlim.

22 de abril de 2024

O estado de bem-estar social da Suécia foi um produto da luta de classes

A social-democracia sueca é frequentemente idealizada como uma força reformista benigna que proporcionou bem-estar às massas agradecidas. No entanto, o modelo social sueco foi o produto de um conflito - e de um radicalismo da classe trabalhadora contra o qual os sociais-democratas se voltaram agora.

Kjell Östberg


O primeiro-ministro social-democrata da Suécia, Olof Palme, em Salzburgo, Áustria, 1971. (Imagno/Getty Images)

Durante quase um século, muitos na esquerda internacional tomaram a social-democracia sueca como modelo - esperando que esta oferecesse um meio democrático para alcançar uma sociedade plenamente socialista. Este foi um projeto construído sobre um movimento laboral de massas, fortes garantias de bem-estar e, na década de 1970, até ideias como o Plano Meidner, que prometia uma socialização gradual da economia.

No entanto, esse futuro não aconteceu. Em vez disso, a social-democracia adaptou-se à ordem mundial neoliberal e desmantelou muitas das suas próprias conquistas passadas. Não só abandonou as suas antigas ambições, mas partes consideráveis ​​da classe trabalhadora viraram-se para os Democratas Suecos de extrema-direita. A ideia de que a Suécia é inerentemente "progressista" está no passado.

Em um novo livro em inglês, The Rise and Fall of Swedish Social Democracy, o historiador Kjell Östberg explica como isto aconteceu. O seu trabalho questiona noções idealizadas de reformismo benigno e destaca os conflitos sociais por trás de décadas de conquistas da classe trabalhadora - e a sua eventual erosão. Apresentamos aqui um trecho do livro.

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Swedish Social Democracy occupies a special place in the political history of the twentieth century. The Swedish model has long stood as a successful model between the communist planned economy and free-market capitalism. Sweden has had a Social Democratic prime minister for more than seventy-five years over the last century. Sweden would be a paradise if only there was a little more sunshine, the bourgeois French president George Pompidou is reputed to have said.

But above all it is socialists of various stripes who have turned to Sweden as the country that has gone the furthest in terms of welfare, equality, social consensus, and gender equality. The focus has been on the Social Democratic Party, whose strong organization, dominant political position, capacity for ideological innovation, and not least ability to implement a program for the strong welfare state has attracted attention and often admiration. The ideologue and minister of finance Ernst Wigforss, the social engineers Alva and Gunnar Myrdal, the trade union economist Rudolf Meidner, and the politician Olof Palme all symbolized, each in their own way, a Social Democracy that appeared a little more radical than others. [...]

The party is undoubtedly one of the most powerful political actors of the twentieth century, internationally as well as domestically. Its position within the working class was hegemonic for a hundred years. The Social Democratic–led trade unions organized 80 to 90 percent of the workers, the vast majority of whom voted Social Democrat. Large sections of the middle classes also supported the party’s policies. The broad Social Democratic movement was extraordinarily well organized. It was, to use [Antonio] Gramsci’s phrase, a party with a great capacity to produce and educate its intellectuals itself. The leadership was recruited mainly from the working class, and it soon acquired extensive experience in leading struggles and movements. [...]

But the conquests of the Swedish working class are also linked to waves of radicalization, recurrent periods of strikes, increased social struggles, and the emergence of new social movements and revitalization of existing ones. Virtually all important democratic and social reforms can be linked to such periods of intensified class struggle. The democratic reforms after World War I were a direct consequence of the massive hunger demonstrations initiated by working women, who were largely unorganized either politically or as laborers.

The social reforms initiated in the 1930s came about amid the threat of widespread strike movements, a surge in trade union organization, and women’s struggle for the right to work and for basic social security. The spectacular peak of the solidarity-based welfare state in the 1960s and ’70s coincided with the emergence of a series of new social movements with transformative ambitions, in which the women’s movement played a decisive role, and with a strong radicalization of the traditional labor movement, mainly expressed in a wave of spontaneous strikes.

Certainly, the Social Democratic Party has often played a central role in these processes. The party has harbored dreams of a society free from injustice and class oppression; it has not been a monolithic organization. Conflicting views have constantly been pitted against one another. The party and the Swedish Trade Union Confederation (LO) have often had different views and interests. Women have had to fight against prejudice and patriarchal structures.

Within Social Democracy, there are different layers and interests that are sometimes at odds with each other, as well as subject to external pressures. Swedish Social Democracy has been represented by skilled leaders at all levels, who have been able to translate many of the movement’s demands and dreams into practical policies. But they have, at the same time, imposed constraints, particularly in not challenging capitalism and respecting the established parameters of political intervention.

As a result, the party leadership has often found itself at odds with the dynamics of social mobilizations. After World War I, great efforts were made to persuade workers to abandon the struggle in the streets and squares, and to concentrate their efforts instead on the parliamentary assemblies at local and central levels — in other words, to give up the fight for a deeper democracy. In the 1930s, the party intensified its attempts to isolate the communists and socialists of various shades who had played an important role in the revitalization of the social movements, so as to ensure that their efforts did not interfere with the rapprochement with the business world.

When the force of 1970s radicalization challenged the right of capitalism to decide over work conditions, and raised the question of workers’ power over their jobs, the party leadership retreated, choosing to replace demands for wage-earner funds with the toothless Co-Determination Act. Wildcat strikes were fought against, and social movement activists were monitored. When opposition to the neoliberal turn led to widespread trade union protests, the party leadership went on the counteroffensive.

In short, the Swedish welfare state is the result of a class struggle enacted by currents and movements whose base extended way beyond the confines of the Social Democratic Party.

The Rise and Fall of Swedish Social Democracy está disponível na Verso Books.

Colaborador

Kjell Östberg é historiador. Ele é autor de A ascensão e queda da social-democracia sueca.

21 de abril de 2024

O argumento filosófico para uma semana de trabalho de quatro dias

O filósofo Jason Read discute o seu novo livro sobre a política do trabalho, no qual extrai ideias de Marx, Spinoza e elementos da cultura popular para abordar uma questão urgente: Porque é que as pessoas lutam pela sua servidão como se esta fosse a sua salvação?

Uma entrevista com
Jason Read


Um retrato de 1666 de Barend Graat de um homem que se acredita ser Baruch Spinoza. (Wikimedia Commons)

Entrevista de
Will Lewallen

Em 1930, o economista John Maynard Keynes publicou um ensaio no qual previa que, em 2030, a semana de trabalho média seria de apenas quinze horas. Hoje, as pessoas estão trabalhando mais e mais arduamente apenas para satisfazer as suas necessidades básicas, e as pessoas procuram "cultura da agitação" em vez da política em busca de soluções.

O que explica o nosso apego perverso ao trabalho, mesmo quando as suas recompensas materiais diminuem? Esta é a questão que o filósofo Jason Read se propôs a responder no seu novo livro The Double Shift: Spinoza and Marx on the Politics of Work, publicado pela Verso Books em março.

Read destrói a distinção tradicional entre trabalho e ideologia, argumentando, em vez disso, que o trabalho desempenha sempre um papel na formação das nossas visões políticas e éticas do mundo. Misturando filosofia com cultura popular, com referências a Clube da Luta, Breaking Bad e muito mais, The Double Shift é uma tentativa de responder ao que Baruch Spinoza via como a questão fundamental da filosofia política: por que as pessoas lutam pela sua servidão como se fosse sua salvação?

Will Lewallen

A maioria das pessoas já ouviu falar de Karl Marx. Quem é Spinoza e qual foi a ideia por trás da combinação desses dois pensadores?

Jason Read

Baruch Spinoza foi um filósofo holandês do século XVII. E, realmente, Spinoza e Marx podem ser vistos como preenchendo lacunas no pensamento um do outro. Marx tem uma noção muito mais histórica de como a economia molda as relações sociais, e o que Spinoza pode oferecer é uma noção mais profunda de como a imaginação e a emoção formam a ideologia.

Uma das coisas que Spinoza coloca em primeiro plano é a componente ativa, onde a ideologia não é apenas algo que as pessoas suportam e aceitam passivamente, mas algo por que as pessoas lutam ativamente. Não se trata apenas do fato de as pessoas continuarem apegadas ao trabalho à medida que os seus benefícios materiais diminuem, mas, em certo sentido, o apego ao trabalho como medida do valor e da posição de alguém aumentou, na verdade, à medida que os benefícios materiais diminuíram. Assim, o trabalho é visto como alimentador de um certo sentido de identidade, mesmo quando deixa de fornecer as necessidades básicas da existência. Você vê pessoas dobrando o trabalho porque o trabalho é a única maneira de entender como melhorar sua existência.

Will Lewallen

Você define nosso momento como de solidariedade negativa. O que é isso?

Jason Read

A solidariedade negativa é um sentimento de indignação ou injustiça dirigido não ao capitalismo, às corporações ou às condições de trabalho em geral, mas àqueles que parecem não estar trabalhando ou àqueles que trabalham em melhores condições. Nos Estados Unidos existe um adesivo popular que diz: "Continue trabalhando, milhões de pessoas que recebem assistência social dependem de você".

É estranho porque o bem-estar social desde a era [Bill] Clinton foi tão reduzido que a ideia de alguém poder não trabalhar e viver confortavelmente é pura ficção. No entanto, persiste esta ideia de que existem pessoas por aí que não trabalham ou que se beneficiam do meu trabalho. Também vemos isso quando os professores entram em greve. Eles são vistos como trabalhadores relativamente confortáveis ​​porque têm proteção no emprego e mais tempo livre, mas a resposta não é "Por que não posso ter essas coisas?" mas apenas um ressentimento por eles terem essas vantagens. Esta é uma solidariedade que só pode operar para baixo, uma corrida para baixo.

Will Lewallen

No Reino Unido, esta retórica é comum durante ondas de ação sindical, particularmente contra trabalhadores em indústrias com fortes níveis de sindicalização, como o setor ferroviário.

Jason Read

Sim, esta situação é reforçada quando apenas uma pequena percentagem da força de trabalho tem sindicatos e negociação coletiva; é visto mais como algo de elite do que como algo que todos os trabalhadores deveriam ter. O trabalhador não é mais esta figura coletiva, mas foi transformado em uma figura altamente individualista. Trabalha-se como indivíduo e compete-se para ser melhor, para trabalhar mais. Os trabalhadores passaram de um coletivo para indivíduos e, ao fazê-lo, perderam a sua verdadeira oposição ao capital.

Will Lewallen

Você escreve que essa indignação vem de um sentimento de impotência. Como é que esta impotência leva à solidariedade negativa?

Jason Read

Uma das coisas que Spinoza enfatiza é que tentamos, tanto quanto possível, pensar em coisas que aumentem o nosso poder. Portanto, a questão é: o que fazemos quando estamos numa situação de relativa impotência, incapazes de controlar as condições sob as quais trabalhamos ou a natureza mutável do trabalho e assim por diante? Parece que uma resposta é transformar a nossa capacidade de suportar essas condições num ponto de orgulho estoico. “Veja o quanto eu aguentei e isso não mostra o quão poderoso eu sou?” Em certo sentido, tenta transformar a impotência numa espécie de poder. O efeito disto é que ter de trabalhar em dois empregos para sobreviver já não é visto como um problema do sistema econômico, mas antes mostra o meu mérito.

Will Lewallen

Há muitas referências à cultura popular no livro. O que você acha que a cultura popular pode nos dizer sobre nossas atitudes em relação ao trabalho?

Jason Read

Penso que a cultura popular tem de refletir as nossas preocupações e preocupações existentes, mas, para capturar a nossa imaginação, também tem de distorcer essas preocupações ao mesmo tempo. Veja o programa de televisão Breaking Bad, por exemplo. O show começa quando um professor de química do ensino médio descobre que tem um câncer inoperável e fica extremamente preocupado com o fato de que o custo de seus cuidados de saúde e a perda de seu salário deixarão sua família na miséria. Então ele traça um plano para fabricar e vender metanfetamina.

Aí vemos o reflexo de uma ansiedade muito real: que o trabalho não proporcione a minha existência nem cubra os cuidados de saúde. Mas, ao mesmo tempo, há também esse elemento de fantasia em que ele se torna realmente bom em preparar metanfetamina; ele é capaz de destruir sua concorrência, e é essa fantasia de que posso ser tão bom no meu trabalho que posso eliminar todos os meus medos e ansiedades. O trabalho é a fonte dos nossos medos, mas o trabalho também é a condição para superá-los. Colocar a cultura pop junto com a teoria pode mostrar as limitações da cultura pop e, às vezes, também as limitações das teorias.

Will Lewallen

O livro dá muita ênfase ao papel da imaginação. Como é que a pandemia, especialmente coisas como a licença e a pausa no pagamento das dívidas dos estudantes, afetaram o que as pessoas consideravam possível?

Jason Read

Estamos presos em um ciclo vicioso onde o que imaginamos depende, em certo sentido, de como vivemos, e como agimos depende de como imaginamos. Como disse, penso que prosseguir o trabalho individual como forma de superar as limitações do trabalho revela um verdadeiro constrangimento na imaginação. Mas durante a pandemia, o Estado fez coisas que foram declaradas impossíveis por qualquer lógica neoliberal. Separou a existência do trabalho: por um curto período, deu cheques para as pessoas viverem, não dependentes do trabalho.

Isto teve um efeito transformador. As pessoas são limitadas no que fazem e no que acham que é possível. Mas às vezes basta que outra pessoa faça alguma coisa e, de repente, essa coisa se torna possível. Vimos isto nos Estados Unidos em uma onda de ação laboral na organização laboral em locais como Starbucks e Amazon, que têm um efeito quase contagioso.

Parte do espinosista que há em mim diz que é preciso reconhecer todas as maneiras pelas quais você é determinado pelas restrições materiais e pelos limites da imaginação antes de poder pensar em todas as maneiras pelas quais você é livre. Parte do problema de começar com uma suposição de liberdade é que você acaba dizendo que se as pessoas toleram essa situação, elas devem gostar dela por algum motivo.

Will Lewallen

O senhor escreve que a maior parte da resistência ao trabalho se concentra frequentemente nas condições específicas de emprego e não nas condições gerais do trabalho assalariado. Como poderia algo como uma semana de trabalho de quatro dias ajudar a enfrentar estas condições mais universais? E, de forma mais ampla, qual seria o efeito de uma semana de trabalho mais curta no imaginário político?

Jason Read

Essa é uma questão importante. Penso que a redução do tempo de trabalho teria necessariamente o impacto positivo de criar novas formas de as pessoas pensarem sobre as suas identidades e o seu lugar no mundo, sem ser através do trabalho. Uma das coisas que você deve levar a sério sobre o investimento das pessoas no trabalho, visto que elas trabalham tanto, é que seu tempo livre é geralmente dedicado ao que Marx chama de “funções animais” básicas de dormir, comer, etc. num sentido em que as pessoas vão trabalhar porque os seus amigos estão lá; tudo o que entendem sobre sociabilidade vem do trabalho. Quanto mais as pessoas trabalham, mais elas começarão a se identificar com o trabalho.

Portanto, reduzir a semana ou os dias úteis libertaria as pessoas deste ciclo. Se as pessoas tiverem tempo para fazer outra coisa além de comprar mantimentos e lavar a roupa apenas para voltar ao trabalho no dia seguinte, elas poderão produzir um outro sentido de si mesmas fora dos limites do trabalho. A imaginação funciona como uma cunha, um pequeno ponto de entrada para outra forma de pensar; se for posto em prática, poderá então pressionar por mais. Por exemplo, a semana de trabalho reduzida daria às pessoas mais tempo para se envolverem na política, para exigirem ainda menos trabalho. Uma coisa que limita as possibilidades políticas é o próprio trabalho.

Adaptado de Tribune.

Colaboradores

Jason Read é professor de filosofia na University of Southern Maine e autor de The Production of Subjectivity: Marx and Philosophy.

Will Lewallen é um jornalista freelancer que mora em Londres.

20 de abril de 2024

Ditadura tentou reprimir Diretas Já com blecaute, censura e violência policial

Presidente Figueiredo chegou a baixar medidas de emergência apesar de promessa de abertura política

Matheus Tupina


A ditadura militar, que havia prometido abertura política e a realizava de forma "lenta, gradual e segura", tentou reprimir a força das manifestações das Diretas Já, que reunia centenas de milhares de pessoas nas ruas das principais capitais do país e unia a oposição em torno do direito ao voto para presidente.

O general João Figueiredo, último presidente do período autoritário, chamou o movimento de subversivo e baixou decreto com medidas emergenciais, atribuindo ao Exército o controle da segurança pública em Brasília e em municípios ao redor.

Além disso, operações das polícias, a imprensa sob pressão do governo e até um blecaute foram percalços para a campanha, frustrada com a derrota da PEC (proposta de emenda à Constituição) Dante de Oliveira, que convocava o pleito direto para a chefia do Executivo federal, em abril de 1984.

Primeiro comício das Diretas Já na praça da Sé, no centro de São Paulo, que reuniu mais de 300 mil pessoas - Gil Passarelli - 25.jan.84/Folhapress

Os militares não queriam perder o controle do processo da abertura política, o que ocasionou uma série de resistências, cristalizadas em repressão e atos considerados contraditórios.

Ao mesmo tempo que foi liberada, em 1974 e sob o governo de Ernesto Geisel, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, houve um aumento dos casos de tortura de opositores. Em seguida, o MDB conquistou uma vitória nacional expressiva no pleito, obtendo 160 cadeiras na Câmara dos Deputados e 22 no Senado.

No ano seguinte, o jornalista Vladimir Herzog morreu torturado em São Paulo, mobilizando protestos pelo país e pelo mundo.

Em 1976, foi criada a Lei Falcão, derivada do nome do então ministro da Justiça, Armando Falcão. A partir daí, a propaganda eleitoral deveria se restringir à narração do nome, do partido, do número e do currículo de cada candidato, cerceando o debate de ideias e críticas ao regime.

Um ano depois, veio o Pacote de Abril, série de leis outorgadas por Geisel que mantinham as eleições indiretas em todos os níveis da federação, entre outras restrições. Em 1978, o AI-5 (Ato Institucional de número 5) foi revogado em meio ao crescimento da oposição, e em 1979 vieram a Lei da Anistia e a volta do pluripartidarismo.

A linha dura, então, respondeu com uma série de atentados a bomba, incluindo o do Riocentro, em 1981, que marcou a reabertura política visando conferir legitimidade a uma possível nova rodada de repressão pelo governo.

É no meio desse vaivém que surgem as Diretas Já, que desagradaram aos militares, inclusive Figueiredo, pela ampliação dos comícios, fora da tutela da caserna. Inicialmente ignorada pela ala majoritária do agora PMDB, a proposta passou a ganhar força entre a esquerda e teve ajuda dos governadores oposicionistas.

O general-presidente chegou a chamar de subversivo o primeiro protesto das Diretas em São Paulo, ocorrido em novembro de 1983 em frente ao estádio do Pacaembu, com pouco público.

No entanto, dois meses depois, no aniversário da capital paulista, a ditadura se deparou com uma movimentação de cerca de 300 mil pessoas, e em 16 de abril, com 400 mil, segundo o Datafolha, demandando o direito de escolher o mandatário do país.

Figueiredo se deu conta de que era preciso tomar as rédeas do processo de abertura política novamente. Assim, propôs uma PEC alternativa à Dante de Oliveira, que autorizaria a escolha direta do presidente em 1988, ou seja, quatro anos mais tarde.

A proposta, amplamente criticada nos comícios, não vingou. Os parlamentares de oposição apresentaram uma alteração no texto para convocar o pleito imediatamente, o que desagradou ao Planalto e o obrigou a retirar o projeto, contrariando fala do presidente em rede nacional.

A imprensa também foi alvo dos militares. A Band, por exemplo, transmitiu ao vivo imagens do comício da Sé e, como consequência, seu dono, João Saad, foi impedido de abrir uma outra emissora em Brasília.

Executivos da Globo relataram cobranças do regime para minimizar a importância dos atos. Roberto Marinho, dono da rede, testemunhou um helicóptero militar pairando a poucos metros de sua sala.

Uma semana antes da votação da PEC Dante de Oliveira, o governo baixou medidas de emergência para salvaguardar as instituições, instrumento que, em substituição ao AI-5, daria direito ao Executivo de cercear o direito de reunião, impor censura e delegar ao Exército a segurança pública de Brasília e das cidades no entorno.

Figueiredo já havia utilizado esse instrumento antes, em outubro de 1983, na votação de projetos de arrocho salarial e dos crescentes protestos orquestrados pela recém-criada CUT (Confederação Única dos Trabalhadores). PMs cercaram Brasília, bloquearam estradas e chegaram a invadir a sede regional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Com isso, as emissoras de rádio e de televisão foram proibidas de transmitir a sessão de votação da proposta em plenário, em 25 de abril de 1984. Tropas policiais e militares cercaram o prédio do Congresso Nacional, medida que blindou os parlamentares que votariam contra o projeto da proximidade com eleitores.

No início da noite, os manifestantes que acompanhavam a sessão no Distrito Federal foram alvo de pancadaria, sendo perseguidos por pelotões armados, munidos de bombas de gás lacrimogêneo.

Para completar, houve um blecaute nas regiões Sul e Sudeste no dia da apreciação da PEC, impedindo a população de acompanhar por quaisquer meios que conseguissem informações. Segundo a Eletrobras, que controlava o sistema elétrico nacional, o apagão havia sido causado por problemas técnicos na rede de transmissão.

Os ingredientes foram suficientes para a receita vista com frustração e choro pelo país no final daquele dia —com 113 ausentes, a emenda das Diretas obteve 298 votos a favor, 65 contra e três abstenções, sendo rejeitada. O número era insuficiente para passar uma proposta de emendar a Constituição à época, já que eram necessários dois terços dos deputados, um total de 320.

Para Rodrigo Gallo, professor de relações internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, o governo militar não via uma eleição direta naquele momento com bons olhos porque a via indireta serviria para não apartar o regime existente do novo governo e nem dos processos decisórios no Executivo.

Ele cita o caso da eleição de pessoas ligadas à ditadura naquele momento, como Delfim Netto, que se tornou deputado federal em 1986. O pleito indireto permitiu que diversos representantes do período autoritário se mantivessem na vida política a partir de um processo eleitoral.

"Parte dos grupos políticos da época tinha ligações diretas ou indiretas com a ditadura, e mesmo grupos não vinculados à ditadura tiveram que negociar, em alguma medida, com o regime nos anos que antecederam a abertura", diz o professor.

Gallo afirma que as Diretas Já tornaram a abertura política diferente do que desejavam os militares e do que queriam os vários segmentos da sociedade civil. E ressalta a presença de marcas da ditadura no campo político ainda hoje pela falta de uma transição que tivesse lidado com mais rigor com os acontecimentos dos anos anteriores.

"Há pautas ligadas a costumes, questões indígenas, desrespeito a direitos humanos, dentre outros, que ainda são alvos de disputa. É um cenário complexo, que dificilmente deixará de existir tão cedo."

Ataque no Brasil me alertou para demonização do gênero, diz Butler

Filósofa afirma que questões identitárias são parte de luta por justiça e critica apoio incondicional de Biden a Israel

Carolina Moraes
Repórter e produtora do podcast Café da Manhã

[RESUMO] Em entrevista a respeito de seu livro mais recente, Judith Butler diz que ataques que sofreu no Brasil em 2017 a inspiraram a estudar o discurso conservador que equipara o gênero a uma ideologia demoníaca contra as famílias. A filósofa americana também critica parcelas da esquerda que descartam os debates sobre identidade sexual, raça e meio ambiente por considerá-los meramente identitários, pois, a seu ver, eles integram a ampla luta por igualdade, liberdade e justiça que beneficia toda a sociedade.

*

Judith Butler, uma das principais referências dos estudos de gênero, não entendeu por que grupos pediram sua expulsão do Brasil quando esteve no país em 2017. Seu nome era associado ao demônio, à destruição da família e à pedofilia, mentiras que motivaram ameaças de agressão em São Paulo. "Eu me perguntava o que isso tem a ver com gênero", diz em entrevista por videochamada à Folha.

Seu interesse em entender o que organizava esses ataques desembocou em "Quem Tem Medo do Gênero?", seu primeiro livro não acadêmico. Butler, que se consagrou com a ideia de gênero como performance há mais de três décadas, agora tenta descortinar o discurso conservador que vê seu trabalho como uma ameaça.

Judith Butler, autora de "Quem Tem Medo do Gênero?", em Paris - Elliott Verdier - 17.mar.24/The New York Times

A pesquisadora define a ideia de gênero por trás desses ataques como um fantasma ancorado em teorias conspiratórias que difundem que um modo de vida corre perigo.

"Quando esses líderes produzem medo sobre gênero, pessoas transexuais, imigrantes, estudos raciais, eles procuram instalar novamente uma ideia sentimental de hierarquia, exclusão e supremacia. Mas ninguém está tirando a identidade sexual de ninguém", afirma. "Queremos que todos sejam livres para encontrar seu modo de vida."

A filósofa defende, diante de ataques à democracia, que a esquerda crie um imaginário convincente para a população. "Temos que apelar às paixões da esquerda feminista, queer e progressista, não às da esquerda que pensa que feministas, queers e transexuais são somente identitários", diz. "Somos parte de uma luta por justiça, liberdade e igualdade."

Butler diz ainda que o presidente americano, Joe Biden, candidato à reeleição contra Donald Trump, se enfraqueceu ao apoiar Israel na guerra contra o Hamas. "[O apoio de Biden] tem sido chocante para jovens e pessoas de esquerda, incluindo os judeus. Acho que muitas pessoas o veem como cúmplice do genocídio."

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A pesquisa para "Quem Tem Medo do Gênero?" começou depois da sua vinda ao Brasil. O que desse episódio a levou ao livro? Sabia antes de ir ao Brasil que havia debates sobre gênero no país e que várias comunidades conservadoras, católicas e evangélicas, estavam preocupadas com gênero. Mas me chocou saber que meu nome estava associado a isso e que eu era considerada uma espécie de demônio, uma força maligna.

Também me surpreendi com o fato de as pessoas me acusarem, e quem trabalha com o conceito de gênero, de ser cúmplice de pedofilia ou de prejudicar crianças. Vi que elas achavam ter razão ao pedir que eu fosse agredida e expulsa do país. Isso era novo para mim. Eu me perguntava o que isso tem a ver com gênero.

Queria, então, entender quais eram as paixões envolvidas e como elas foram organizadas pela mídia de direita, pela igreja e por congressos internacionais para construir uma ideia de gênero como se fosse uma ideologia demoníaca.

Essa ideia de gênero é caracterizada no seu livro como um fantasma. Como esse caráter ilusório do que é gênero foi criado? Vejo muitos líderes autoritários, entre eles Jair Bolsonaro, Viktor Orbán e Giorgia Meloni, que foram eleitos democraticamente.

Quando as pessoas votam nessas figuras, geralmente são atraídas pela ideia de restaurar uma ordem anterior. Quando esses líderes produzem medo sobre gênero, pessoas transexuais, imigrantes, estudos raciais, eles procuram instalar novamente uma ideia sentimental de hierarquia, exclusão e supremacia.

Mas ninguém está tirando a identidade sexual de ninguém. Ninguém está dizendo que você não pode ser mãe ou pai ou que você não pode ser heterossexual. Ninguém está tentando doutrinar crianças. Queremos que todos sejam livres para encontrar seu modo de vida.

Precisamos tornar nossos ideais e nossa imaginação mais vívidos, porque a direita é capaz de incutir medos muito fortes. Precisamos imaginar com mais coragem e publicamente tudo o que queremos, para que a nossa visão se mostre mais convincente que a deles.

Por que o gênero, especificamente, se tornou uma peça central para líderes autoritários? Tenho duas respostas para isso. A primeira é que o gênero aborda questões muito íntimas. Sexo, identidade sexual, orientação sexual são fundamentais para várias pessoas. Sentir que isso pode mudar ou que outros não estão vivendo dessa mesma maneira pode parecer desestabilizador.

Se isso está na base da sua ideia de casamento, de família, parece que tudo —a doutrina da igreja, a família, sua sexualidade— está sendo posto em questão. Porém, na verdade, tudo o que está sendo dito é: existem outras formas de pensar. Até mesmo dentro da igreja.

A segunda resposta é que o gênero é hoje usado para desviar a atenção de outros medos que as pessoas sentem. Em vez de nomear essas fontes de destruição, há um desvio, uma projeção.

Seu livro mostra que esses grupos também atacam estudos raciais. Como esses campos, gênero e raça, se cruzam? É uma ideia de nação que está em jogo. Quando Orbán se opõe à miscigenação, ele não quer que os húngaros brancos se misturem com imigrantes do norte da África ou do Oriente Médio. Ele quer manter a suposta pureza da nação, ou seja, a presunção da supremacia branca. Juntamente com Vladimir Putin, ele entende que a ideia de família apoia a segurança e a identidade nacionais.

Quando pensamos no assassinato cruel de Marielle Franco, podemos ver como raça, gênero, sexualidade e socialismo se unem. Ao matá-la, eles estão tentando dizer que o Brasil não será representado por alguém assim. Quem representa a luta pela justiça racial, pelos direitos das pessoas lésbicas e gays, pelas aspirações feministas faz parte de uma esquerda que será erradicada.

Parte da população teve contato com gênero nesse sentido negativo, não do jeito propositivo e libertador que a sra. explica no livro. Isso é resultado de uma falha política da esquerda e de movimentos progressistas? O problema é que a direita não está só descrevendo o gênero de uma forma falsa ou negativa. Ao apelar para um medo profundo, ela indica que há algo destruindo nosso modo de vida —e isso pode se chamar gênero, mas também raça, migração, socialismo.

A direita conseguiu, com sucesso, apelar a temores que as pessoas estão vivendo e fazer uma promessa de que vai aliviá-los se elas se subscreverem a certas agendas autoritárias.

Temos que apelar às paixões da esquerda —da esquerda feminista, queer e progressista, não a da esquerda que pensa que feministas, queers e transexuais são somente identitários. Não. Somos parte de uma luta por justiça, liberdade e igualdade. Não nos preocupamos somente com nossas identidades, estamos lutando por um mundo melhor.

Muitas pessoas temem a liberdade dos outros. Como você convence essas pessoas? Não é apenas apontando os motivos. Precisamos apelar ao desejo de viver em um mundo melhor. Sabemos que a esquerda sempre vai votar contra o autoritarismo. Mas e quem está no meio? Como fazê-las mudar de ideia? Estou interessada nisso.

Críticos do movimento "woke" defendem que a esquerda deveria estar lutando por ideais universais e que focar identidade, raça e gênero afasta quem não se vê nessas ideias. Como a sra. responde a isso? A esquerda deveria estar pensando em outras questões? A identidade é importante, mas críticos dessa esquerda patriarcal tendem a descartar uma ampla gama de questões como sendo identitárias. O movimento Black Lives Matter não é apenas sobre identidade, mas também sobre justiça.

Não aceito o capitalismo como uma opressão primária e raça, gênero ou desastre ecológico como secundários. Temos que conectar todas essas alianças contra a violência estatal e a ameaça à democracia. Sou socialista, mas não vou classificar as opressões.

"Pássaro Floral" (2023), obra do coletivo Assume Vivid Astro Focus ou Avaf que ilustra a edição impressa da entrevista - Filipe Berndt/Reprodução

LEIA TRECHO DE "QUEM TEM MEDO DO GÊNERO"

Para autora, militantes tratam pessoas trangênero como ameaça e recorrem a táticas empregadas por Orbán e Trump

Como a sra. apresentaria o que são os estudos de gênero para um público amplo? Se olharmos para quem é pobre, analfabeto, desabrigado ou não tem assistência médica, por exemplo, e fizermos uma análise de gênero sobre isso, estamos tentando descobrir quantas dessas pessoas são mulheres ou não têm conformidade de gênero, o que inclui pessoas transexuais e não binárias.

É uma lente que permite pensar diferenças de poder. Geralmente, e de forma importante, está ligada à análise racial e de classe. Precisamos de um conjunto complexo de lentes trabalhando juntas para entendermos a sociedade. O gênero é uma delas.

Ao mesmo tempo, falamos de gênero como parte da identidade de cada um: como você se identifica? Qual é o seu gênero? Fazemos a distinção entre o sexo que lhe foi atribuído e como você dá sentido a esse sexo, se ele é confortável para você e como você se nomeia. Isso é um ato de liberdade.

A sra. defende que contestar a direita autoritária é importante, mas não suficiente para derrotar o "fantasma de gênero". Trump, que usa esse tipo de discurso, disputa de novo a Presidência. Como vê esse cenário? O que deve ser feito? Infelizmente, acho que Joe Biden se enfraqueceu ao continuar as políticas de Trump na fronteira sul do país e impedir que as pessoas possam solicitar legalmente entrada nos Estados Unidos, detendo-as na fronteira em condições desumanas.

Acredito que seu apoio incondicional a Israel até muito recentemente também tem sido chocante para jovens e pessoas de esquerda, incluindo os judeus de esquerda. Acho que muitas pessoas agora o veem como cúmplice do genocídio.

Também acho que Trump tem uma capacidade de emocionar as pessoas. Às vezes ele usa gênero, às vezes a questão transexual, às vezes o discurso anti-imigrante, cada vez mais cheio de ódio e violência. Isso entusiasma as pessoas pelos motivos errados.

Precisamos comunicar a Biden que ele precisa se mover para a esquerda vencer. Ele nos considera um voto dado, mas vimos nas primárias do estado de Michigan que a população árabe-americana estava decidida a não votar nele.

O discurso antigênero mobiliza medos —de desigualdades, guerras, crise climática—, e essas crises não estão perto de serem superadas. O que os estudos de gênero podem oferecer a quem quer respostas nesse cenário? É interessante ver como o gênero é organizado em diferentes países e que, como termo, ele não funciona em certos idiomas. Existem outras maneiras de descrever relacionamentos, diferentes formas de organizar o parentesco, a família, de viver um corpo ou mesmo de se entender na sociedade.

Por que não pensamos mais sobre a imposição colonial da família nuclear heterossexual em várias partes do hemisfério Sul, onde outros tipos de arranjos de parentesco eram possíveis antes?

Talvez possamos aproveitar mais as complicações linguísticas em torno do gênero. Talvez possamos tornar a antropologia mais popular. Acho que muitos de nós na academia precisamos começar a pensar com públicos mais amplos.

JUDITH BUTLER, 68

Professora titular da Universidade da Califórnia em Berkeley, é uma das pesquisadoras mais influentes no campo de estudos de gênero e sexualidade e teve seus livros traduzidos para mais de 25 línguas. Autora, entre outras obras, de "Caminhos Divergentes: Judaicidade e Crítica do Sionismo", "Desfazendo Gênero", "Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade" e "Quem Tem Medo do Gênero?".

QUEM TEM MEDO DO GÊNERO?
Preço R$ 83 (280 págs.); R$ 70 (ebook) Autoria Judith Butler Editora Boitempo Tradução Heci Regina Candiani

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