9 de novembro de 2016

A política é a solução

Não podemos nos mudar para o Canadá ou nos esconder debaixo da cama. Este é um momento para abraçar a política democrática, e não repudiá-la.

Megan Erickson, Katherine Hill, Matt Karp, Connor Kilpatrick e Bhaskar Sunkara

Jacobin

Foto de Pablo Martinez Monsivais

Tradução / Não temos ilusões sobre o impacto da vitória de Donald Trump. É um desastre. A possibilidade de um governo da direita unida, dirigida por um populista autoritário, representa uma catástrofe para a classe trabalhadora.

Existem duas formas de reagir a esta situação. Uma é culpar o povo dos Estados Unidos. A outra é culpar a elite do país.

Nos próximos dias e semanas, muitos comentaristas optarão pela primeira. Liberais aterrorizados já redigiram manuais sobre como mudar-se para o Canadá; o site da imigração canadense caiu esses dias depois de um aumento repentino no tráfego. As pessoas que nos trouxeram a este precipício estão agora planejando a fuga.

Culpar o público americano pela vitória de Trump apenas aprofunda o elitismo que reuniu seus eleitores. Não resta dúvidas que o racismo e o sexismo cumpriram um papel crucial na emergência de Trump. E é assustador notar as formas com que sua vitória servirão para fortalecer as forças mais atrasadas e intolerantes da sociedade americana.

Apesar disso, a resposta à Trump que começa e termina com o sentimento de horror não é uma resposta política – é uma forma de paralisia, uma política de esconder-se em baixo da cama. E uma resposta para a intolerância entre os americanos que comece e termine com uma denúncia moral não é, de maneira nenhuma, política. É o oposto da política. É rendição.

Acreditar que o apelo de Trump foi inteiramente baseado no nacionalismo étnico é acreditar que quase a maioria dos americanos se orientam apenas pelo ódio e pelo desejo comum de um programa político de supremacia branca. Nós não acreditamos nisso e os fatos não sustentam essa ideia.

Esta eleição, nas palavras do analista do New York Times, Nate Cohn, foi decidida pelos que votaram em Barack Obama em 2012. Não podem ser todos fanáticos.

Hillary Clinton conquistou apenas 65% do eleitores latinos, comparados aos 71% de Obama há quatro anos atrás. Ela foi derrotada assim em um contexto de um opositor que prometia construir um muro em toda a fronteira Sul dos Estados Unidos; um candidato que começou sua campanha chamando os mexicanos de estupradores.

A candidata do Partido Democrata conquistou 34% dos votos entre mulheres brancas de baixa escolaridade e apenas 54% entre as mulheres em geral, comparados a 55% de Obama em 2012. Clinton estava competindo com um candidato que aparece em vídeo se gabando de ter agarrado mulheres “pela buceta”.

Esta foi uma eleição feita para Hillary Clinton perder. E ela perdeu. Muito da responsabilidade deve cair sobre as costas da candidata, mas ela apenas incorporou o consenso desta geração de líderes do Partido Democrata. Sob o presidente Obama, os democratas perderam quase mil cadeiras em legislaturas estatais, uma dúzia de eleições de governadores, quase 70 assentos na Câmara e treze no Senado. A derrota desta semana não veio do nada.

O problema da candidatura de Clinton não foi sua peculiaridade, mas seu caráter típico. Foi característico deste Partido Democrata que os power players em Washington tenham decidido a indicação da candidatura – com apoios excepcionais – muitos meses antes da realização de qualquer pesquisa de intenção de voto.

Eles tomaram uma decisão grave para todos nós ao trapacearem contra o tipo de política que poderia ter vencido: uma política de classe trabalhadora.

Mais de 70% dos americanos que votaram essa semana acreditavam que “a economia é orientada para a vantagem dos ricos e poderosos”; 68% concordaram que “os partidos tradicionais e políticos não ligam para pessoas como eu”.

Praticamente sozinho entre os políticos democratas, Bernie Sander falou para este sentimento latente de alienação e para o ressentimento de classe. Sander possuía uma mensagem básica para o povo dos Estados Unidos: vocês merecem mais e vocês estão certos em acreditar nisso. Saúde, educação, um salario mínimo. Foi uma mensagem que o tornou – com larga margem – o político mais popular do país.

A plataforma formal de Hillary Clinton abordou algumas das ideias concretas de Sanders, mas repudiou sua mensagem de fundo. Para os poderosos no Partido Democrata, não fazia sentido fazer campanha contra os Estados Unidos, o país nunca tinha parado de ser ótimo. E as coisas só haviam melhorado.

Os líderes do partido pediram aos eleitores para deixar a política “com eles”. Eles achavam que tinham tudo sob controle. Eles estavam errados e agora todos nós precisamos lidar com as consequências. E vamos.

Esta é uma nova época que exige um novo tipo de política. Uma que fale para as necessidades urgentes e esperanças populares, e não para seus medos. O liberalismo elitista, fica evidente, não pode derrotar o populismo de direita. Não podemos nos mudar para o Canadá ou nos esconder em baixo da cama. Esta é um momento para abraçar a política democrática, não repudiá-la.

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